sábado, 2 de abril de 2011

Bônus Demérito

Eu como tantos outros professores da Rede Estadual Paulista fomos surpreendidos na data de hoje (31/03/2011), com mais uma política pública de desvalorização do Magistério – o Bônus Demérito.

O Governo Estadual Paulista se vangloria, propaga a política do “Bônus Mérito”, até mesmo como plataforma eleitoreira para angariar votos de pessoas que insistem em fazer vista grossa à real situação do Magistério do Estado, que dizem está entre os mais valorizados da Nação, se é verdade, não me sinto nem um pouco apta a falar dos demais.

Voltemos aos professores, alguns colegas de trabalho, pessoas como eu, devotadas à “profissão”, desempenhando, no dia-a-dia, o seu mister com “sangue, suor e lágrimas”, cooperando, dedicada e eficientemente, à construção do outro, foram, até mais do que eu mesma, totalmente descontruídos na data de hoje - foi o golpe da misericórdia - porque mereceram a título de bonificação pelos trabalhos realizados R$ 0,13 R$ 0,81, R$ 8,22, R$ 20,21, R$96,22, entre outros valores aviltantes que se fossem doados como esmola, fatalmente, seriam recusados com a sujeição do doador a ofensas morais, pior ainda se fossem dados a um flanelinha, desse que fica nos estacionamentos em que o governo cobra tarifas de “zona azul”, extorquindo dinheiro de motoristas que se não os “bonificam” a contento ou conforme exigem, são agredidos fisicamente quando não têm seus bens danificados.

É bom que se frise que alguns outros colegas professores nada receberam por seus merecimentos, porém acredito que isso tenha sido menos humilhante do que terem recebido por seu trabalho uma “valorização” sem nenhum critério, ou de critérios duvidosos a que não se tem acesso, aferida em R$0,13, R$0,81, R$ 8,22... Será que o nosso “patrão” está nos confundindo com mendigos ou flanelinhas da lousa? Cremos que não, senão os valores seriam maiores.

É triste, é lastimável, é depreciativo e, mais que tudo, é depressivo... Eu, particularmente, trabalho na mesma escola de bairro há vinte e dois anos e na qual, apesar da insistência de seus gestores junto aos órgãos governamentais, o muro continua sendo de “palito” (mourão de concreto), que permite ao aluno sair pelos vãos, nem preciso dizer, mas já o fazendo, se os vãos permitem a saída, o contrário também ocorre, entram elementos estranhos que “zanzam” na escola, ou fazem dela uma servidão de passagem, pois não há Funcionários de Apoio em número suficiente para impedir a ocorrência. Quando chove o telhado parece feito de peneira, devido à depredação rotineira a que o prédio escolar está exposto.

Há menos de um mês, quase no mesmo dia em que uma professora foi executada em Embu das Artes, um jovem de apenas 21 anos, que inclusive foi aluno da escola, foi cruelmente morto nas proximidades dela, acerca de dez minutos após a saída do turno da manhã, eu havia contemplado o seu rosto no ponto de ônibus em frente, pouco depois soube que fora assassinado, não houve comentários posteriores sobre os motivos do crime, se é que houve motivo, ninguém (alunos, nem professores) se atreveu a lançá-lo, porque temos família e ainda não fizemos jus a adicional de periculosidade e a pensão por morte não daria para sustentá-la, sem o acréscimo de outros trabalhos complementares por nós realizados.

Assinala-se, finalmente, que não se trata de covardia tal postura, porque continuamos trabalhando na mesma escola como se nada tivesse ocorrido, pois a vida continua e outros cidadãos precisam ser construídos, no entanto, não se pode afirmar que com as atuais políticas governamentais, continuarão a existir operários para tal construção.

Profª Sueli Cabral