domingo, 19 de outubro de 2008

Alfredo Bosi

Para ALFREDO BOSI, a atividade literária, assim como toda obra de arte, ultrapassa toda especificidade individual e se torna um instrumento de enorme importância para a formação e a caracterização da cultura de um povo. Professor catedrático, ensaísta e historiador literário, Alfredo Bosi é em primeiro lugar um fino analista da sociedade brasileira. Seus ensaios e livros — entre os quais há clássicos consagrados do pensamento crítico, como História Concisa da Literatura Brasileira — não se limitam ao exame do alcance literário propriamente dito a que chega uma obra, embora também sejam ilustres nesse sentido; seu objetivo é também e principalmente ressaltar o papel cumprido por essa obra dentro de suas determinações culturais, históricas e sociais. Essa abordagem culturalista quer situar obra literária dentro do seu tempo, sujeita, como no caso dos autores contemporâneos, a um ultramodernismo que visa transformar todo objeto em mercadoria descartável. Assim, o papel da obra de arte moderna (ou pós-moderna) também é o de apresentar resistência a esse consumismo devorador.

OBRAS

O Pré-Modernismo (1966); História Concisa da Literatura Brasileira (1970); O Conto Brasileiro Contemporâneo (1975); A Palavra e a Vida (1976); O Ser e o Tempo na Poesia (1977); Araripe Jr. — Teoria, Crítica e História (1978); Reflexões sobre a Arte (1985); Cultura Brasileira, Temas e Situações (1987); Gracialiano Ramos (1987); Céu, Inferno: Ensaios de Crítica Literária e Ideológica (1988); Dialética da Colonização (1992); O Enigma do Olhar (1999).

CRÍTICA DA CULTURA

“Quebrando essa notória escassez de (re)visões do conceito genérico de cultura, o crítico literário e ensaísta Alfredo Bosi voltou no tratamento do assunto em seu livro Dialética da colonização. Partindo da necessidade de separar o enfoque da cultura brasileira em face das culturas brasileiras do ‘singular para o plural’, o autor dedicou densas considerações sobre a conjuntura cultural nas universidades e fora delas; e sobre as implicações da indústria cultural em nosso país, entre outros aspectos.” (Aziz Nacib Ab-Sáber, O Estado de S. Paulo)

ABORDAGEM CULTURALISTA

“É preciso frisar que, na sua abordagem culturalista do fato literário, acentuando a modulação política, Alfredo Bosi não relega a segundo plano a especificidade literária. Este enfoque múltiplo do nosso patrimônio cultural faz da História concisa da literatura brasileira um livro indispensável.” (Franklin de Oliveira, orelha a História Concisa da Literatura Brasileira)

Extrato da obra Dialética da Colonização

Estamos acostumados a falar em cultura brasileira, assim, no singular, como se existisse uma unidade prévia que aglutinasse todas as manifestações materiais e espirituais do povo brasileiro. Mas é claro que uma tal uniformidade parece não existir em sociedade moderna alguma e, menos ainda, em uma sociedade de classes. Talvez se possa falar em cultura bororo ou cultura nhambiquara, tendo por frente a vida material e simbólica desses grupos antes de sofrerem a invasão e aculturação do branco. Mas depois, e na medida em que há frações no interior desse grupo, a cultura tende também a rachar-se, a criar tensões, a perder sua primitiva fisionomia que, aí menos para nós, parecia homogênea.

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